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História e histórias


© Fotografia: Borealis on Trekking

 Ponte de Lima é uma vila minhota cuja ocupação humana remonta à Pré-história. São muitos os vestígios com mais de 3000 anos e multiplicam-se quando avançamos para a Idade do Ferro. Os povoados deste período, comummente conhecidos como Castros, ocupavam muitas elevações distribuídas por toda a área que hoje constitui o concelho de Ponte de Lima. Podemos afirmar que cada freguesia nasceu de um ou mais castros, tal era o povoamento. Junto à sede do concelho existem dois castros de grandes dimensões, um no Monte das Santas, actualmente designado por Santa Maria Madalena e um segundo localizado na margem oposta do rio Lima, a que chamam Monte de Santo Ovídio. Hoje são dois grandes miradouros que convidamos a visitar.

 Com a chegada dos romanos à Península Ibérica, Ponte de Lima ganha nova ênfase na história associada ao seu rio. Reza a lenda que o rio Limia (dos romanos) era apelidado pelos gregos por Lethes, que significa esquecimento. Todos aqueles que o atravessassem perderiam a memória; daí surge o episódio da legião romana que ao ter chegado ao rio Lima se recusou a galgar as suas margens e, perante este cenário, o comandante nadou até à margem direita e chamou cada legionário pelo seu nome, provando que a perda de memória não passava de um mito. Os romanos acabariam por construir uma ponte de pedra neste local e duas outras em freguesias próximas, aumentando e enriquecendo a sua rede viária. O concelho é atravessado de sul para norte pela Via XIX de Antonino, a mesma que continuaria a ser usada na época medieval, coincidindo o traçado, em parte, com o caminho de peregrinação a Santiago de Compostela.

 A terra de Ponte, nome pelo qual era designado o burgo medieval teve Carta de Foral outorgada pela rainha D. Teresa e seu filho D. Afonso Henriques, a 4 de março de 1125. Nela são definidos os limites do território, muito inferiores ao que é hoje o concelho de Ponte de Lima. Também neste documento encontramos a mais antiga referência histórica a uma feira, impondo a rainha proteção aos que aqui viessem.

 Conhecemos o primeiro foral de Ponte de Lima pela confirmação do rei D. Afonso II, dada em Guimarães, no mês de Agosto de 1217. Outras confirmações se sucederam até à renovação no Foral outorgado pelo rei D. Manuel I, datado de 1 de junho de 1511.

 A Idade Média trouxe a Ponte de Lima o cariz militar que haveria de manter até ao século XIX, com a construção da ponte sobre o rio Lima e da muralha, com as suas torres e portas. Sobre o alicerce da Torre de Santo António, junto à igreja com o mesmo nome, em Além da Ponte (freguesia de Arcozelo) ficou registado, numa das mais emblemáticas inscrições, o início da construção da muralha:  "REINA O MUI NOBRE REI DOM PEDRO NA ERA DE MIL E TREZENTOS NOVENTA SETE ANOS (C. 1359) MANDOU CERCAR ESTA VILA E FAZER ESTAS TORRES POR ÁLVARO PAIS QUE ERA SEU CORREGEDOR E COMEÇARAM A BOTAR (JUNTAR) A PEDRA (A) 8 DIAS DE MARÇO E COMEÇARAM AFUNDAR AOS 6 DIAS DE JULHO”.

 Em 1370 já a muralha estaria terminada, conforme consta de um documento do rei D. Fernando. Com a crise de 1383-1385 assistimos ao confronto entre Lopo Gomes de Lira, governador e meirinho-mor da Comarca de Entre-Douro e Minho que se insurgia contra D. João Mestre de Avis. Segundo Miguel Roque dos Reys Lemos o "Governador, com sua mulher e filhos e com os renegados portugueses a seu serviço, vendidos a Castela pela torpe ambição, refugiara-se na torre mais elevada, mais forte e de maior capacidade, a dos Codessos ou de Menagem, que depois de 1464, veio a chamar-se do Castelo...”. Lopo Gomes de Lira rendeu-se e Ponte de Lima apoiou o aclamado rei D. João I. 
É precisamente no século XV, que ao contrário do que tinha acontecido até aqui, a vila deixa de ser realenga e é instituída a Alcaidaria. Quem consegue este feito foi D. Leonel de Lima, fidalgo, filho de Fernão Eanes de Limia, que apoiara D. João I no cerco à cidade de Tui e que por ter prestado tão fiel serviço, recebera do rei a Casa da Giela e a jurisdição cível e criminal da terra de Arcos de Valdevez. "Leonel de Lima figura entre os fidalgos que participaram ao lado do rei na tomada de Alcácer no ano de 1458”, consegue de D. Afonso V o título de Alcaide- Mor para si e para os seus sucessores. Contestação geral! A protecção régia agravou a sua conduta e muitas queixas chegaram às cortes, contra D. Leonel e posteriormente contra os seus filhos e descendentes. Acusavam-no de proteger os malfeitores que afrontavam os habitantes da vila; que prendia pessoas injustamente levando-os para a sua cadeia no castelo, insultando-os e maltratando-os. Deve-se a D. Leonel de Lima a construção do Convento de Santo António dos Capuchos, onde actualmente está instalado o Museu dos Terceiros e aos seus descendentes a configuração do actual Paço do Marquês, sua residência primeira e remodelada ao longo dos séculos. Hoje alberga o Centro de Interpretação da História Militar de Ponte de Lima.

 No século XVI realce para as obras no pavimento da ponte e a colocação de merlões, bem como a implantação da Cadeia, numa das torres do sistema defensivo. Todas as reformas foram promovidas por ordem do rei D. Manuel I, cujas armas estão bem patentes nas paredes da Torre da Cadeia.

 É igualmente neste século que surge a Misericórdia de Ponte de Lima para assistência aos mais necessitados. Instalam, em frente à Igreja Matriz, o Hospital da Praça e anexam também a antiga Gafaria, ou hospital dos Leprosos (Gafos), existente fora de muralhas, no local onde hoje se encontra a Igreja de Nossa Senhora da Guia. Longe do perímetro muralhado mas junto a uma das principais vias medievas, hoje Caminho de Santiago.

 No século XVII surgiram novas obras com relevância para o melhoramento da vida no burgo, são exemplo a construção de alguns edifícios, como a capela de Nossa Senhora da Penha de França, cuja construção foi propositada para os presos poderem assistir à missa; o Hospital de S. João de Deus mandado edificar em 1659, pela regente do reino, a rainha D.ª Luiza de Gusmão, destinado ao curativo dos militares feridos nas guerra da restauração da independência e o Chafariz Nobre, construído na entrada da rua do Souto, extra muros, servindo para o abastecimento de água potável. No século XX foi deslocalizado para o Largo de Camões, onde ainda hoje se encontra. Tal era a sua importância que junto ao chafariz está uma inscrição, avisando que quem o conspurcasse teria uma pena de cadeia de 3 dias, e caso o ato fosse repetido a pena seria em dobro.
 
Durante o século XVIII e XIX o aspecto urbanístico da vila de Ponte de Lima, sofreria os novos ideais do liberalismo. Os solares barrocos multiplicaram-se, dentro e fora de muralhas. A cerca e torres medievais que tinham deixado de ter uso militar, eram agora alvo dos mais hábeis saqueadores de pedra, muito útil na construção das novas casas. Calçadas, Casas, Muros, por todo o lado a pedra foi reaproveitada, apesar das constantes deliberações de Câmara para que nenhuma pessoa "podesse demolir ou apropriar-se depedra algua (dos muros) desta villa, setinhão alguãs utilizado dapedra dita sem licença eautoridade Regia...”.

 A vida da população adaptou-se, aumentaram as escolas disponíveis e surgem os primeiros periódicos limianos, são o caso dos jornais "O Lethes” e "O Echo do Lima”. Abrem-se novos arruamentos e constroem-se espaços dedicados à cultura, como o Teatro Diogo Bernardes ou a Sociedade Limarense, inaugurada a 1 de dezembro de 1868, tendo surgido para "proporcionar aos seus associados e famílias algumas horas de agradável convívio, quer em tertúlias cotidianas, quer em festas e diversões”. Este é o espelho de uma população urbana, num concelho iminentemente rural, onde ainda hoje encontramos usos e costumes ancestrais.

 A reforma administrativa, implantada após 1836, aumentou consideravelmente a área do território concelhio mas não mudou o sector de actividade mais enraizado, o sector primário que foi durante todo o século XIX e grande parte do XX predominante.

 Terra de usos e costumes ancestrais, desafiamo-lo a descobrir mais sobre uma das vilas mais antigas de Portugal!
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